Você já deve ter visto alguém dizer que “usou a IA para escrever um texto”, “gerar uma imagem” ou até “criar um assistente inteligente”. Mas afinal, o que está por trás disso tudo? Neste artigo, vamos entender de forma simples e com exemplos do dia a dia o que é inteligência artificial generativa (Gen AI), o que são os LLMs (modelos de linguagem de larga escala) e os agentes de IA.
O que é inteligência artificial (IA)?
Inteligência artificial é a área da ciência da computação dedicada a criar sistemas capazes de reproduzir a forma humana para executar tarefas, reconhecer padrões, fazer escolhas e tomar decisões. Ela não tem consciência, mas consegue analisar grandes volumes de informação e prever ou gerar algo novo com base nos dados que aprendeu.
Nós chamamos de inteligência artificial os sistemas que funcionam com base em algoritmos, ou seja, com base em diversas sequências de instruções que orientam seu funcionamento, como, por exemplo, o app do seu celular, que reconhece os rostos das pessoas que estão nas fotos que você tirou, ou um streaming que te recomenda músicas parecidas com as de artistas que você ouviu antes.
O que é IA generativa?
A IA generativa é um tipo de IA que, além de analisar grandes volumes de dados, é capaz de, como o próprio nome diz, gerar algo novo: um texto, uma imagem, uma música, um vídeo, uma linha de código.
Pense na IA generativa como uma pessoa que leu milhões de livros e assistiu milhares de vídeos. Com o conhecimento adquirido, agora ela consegue escrever histórias, pintar quadros ou responder perguntas. Ela não copia, mas aprende os padrões do material usado em seu treinamento e, com base neles, gera um conteúdo original.
O que são os LLMs (Large Language Models)?
Os Large Language Models (LLMs), ou modelos de linguagem de larga escala, são os “cérebros” por trás de muitas IAs generativas baseadas em texto (como o ChatGPT). Eles são treinados com uma quantidade gigantesca de dados e de parâmetros e, a partir disso, são capazes de entender e de gerar textos com qualidade comparável à humana. É por isso que conseguimos conversar naturalmente com um chatbot como o ChatGPT.
Fazendo uma analogia, um LLM é como um(a) amigo(a) que já leu todos os livros e artigos sobre todos os assuntos possíveis e consegue conversar e debater sobre qualquer tema, mas sem ter consciência ou experiência real do que está falando. Quando você faz uma pergunta, ele prevê quais palavras virão, uma depois da outra, como em um jogo de adivinhação certeiro.
E o que são agentes de IA?
Os agentes de IA são sistemas autônomos que conseguem realizar tarefas complexas para atingir um objetivo. Eles vão um passo além dos LLMs: não apenas respondem a comandos, mas são capazes de agir: podem buscar informações externas, tomar decisões, chamar APIs ou executar tarefas.
Alguns exemplos práticos da ação de um agente de IA são: um agente que lê e resume e-mails automaticamente ou um agente que planeja uma viagem, busca voos e sugere hospedagens para a sua próxima viagem de férias.
Dessa forma, se o LLM é o cérebro que pensa, o agente de IA é o corpo que coloca em prática o que foi pensado.
Onde isso aparece no nosso dia a dia?
A inteligência artificial generativa já está por trás de pequenas facilidades que tornam nossas rotinas mais rápidas, criativas e até divertidas. A seguir, veja alguns exemplos:
No trabalho:
- Ferramentas que ajudam a escrever e-mails, resumir reuniões ou gerar código.
- Copilotos de desenvolvimento, como Stackspot IA, GitHub Copilot ou o ChatGPT, que sugerem trechos de código e explicam erros.
- Aplicativos de produtividade que analisam dados, criam apresentações e até organizam sua agenda automaticamente.
Na criatividade:
- Plataformas como DALL·E ou Midjourney, que geram imagens a partir de descrições em texto. A ideia de “um gato surfando em um arco-íris” vira arte em segundos.
- IAs que compõem músicas, criam vídeos curtos, roteiros ou ajudam pessoas a superarem o bloqueio criativo.
- Ferramentas de design que sugerem paletas de cores, variações de logotipo e textos publicitários.
Na educação e no aprendizado:
- IAs que explicam conceitos de forma personalizada, adaptando o ritmo e o estilo da explicação ao aluno.
- Tutores virtuais que corrigem redações, criam simulados e dão exemplos práticos.
- Plataformas que ajudam a estudar idiomas, simulando conversas reais com falantes nativos.
No cotidiano:
- Aplicativos que sugerem receitas com os ingredientes que estão esquecidos no fundo da sua geladeira.
- Assistentes virtuais, como Alexa ou Google Assistant, que entendem comandos e se integram a outros dispositivos.
- Sistemas de recomendação em streaming que entendem seu gosto e criam listas personalizadas de filmes, séries e músicas com base no que você viu ou ouviu antes.
Tudo isso mostra que a IA generativa não é uma tecnologia do futuro, ela já está misturada ao nosso presente, mudando desde a forma como trabalhamos até a maneira como nos expressamos.
E o que vem por aí?
Estamos vivendo uma nova era da tecnologia, tão transformadora quanto o surgimento da internet ou dos smartphones. A diferença é que agora as máquinas não apenas processam informações: elas colaboram conosco na criação de ideias.
Nos próximos anos, veremos:
- Agentes cada vez mais autônomos: eles poderão executar fluxos inteiros de tarefas, como planejar eventos, responder mensagens, fazer reservas ou até gerenciar projetos, interagindo com diversas ferramentas e APIs. Imagine ter um assistente digital que realmente “faz acontecer” o que você pede.
- Modelos personalizados: cada pessoa ou empresa poderá ter sua própria IA, ajustada ao seu estilo de comunicação, contexto e necessidades. Um “ajudante pessoal” que entende como você pensa e ajuda a ampliar sua criatividade.
- Colaboração humano + máquina: não se trata de substituir pessoas, mas de potencializar as habilidades humanas. A IA pode cuidar do trabalho repetitivo e abrir espaço para que nós nos concentremos nas decisões, na empatia, na estratégia e na criação.
- Novos debates éticos e de confiança: à medida que a IA se torna mais presente, precisamos pensar em como garantir seu uso responsável, evitar vieses e proteger dados pessoais. Mais do que aprender a usá-la, será essencial aprender a avaliar criticamente os resultados da IA.
Entender os conceitos básicos é o primeiro passo para aprender a criar com IA e não apenas usá-la. A boa notícia é que esse aprendizado começa agora, de forma acessível e experimental.
Glossário: Inteligência Artificial Generativa
Inteligência Artificial (IA)
Campo da ciência da computação que busca fazer com que máquinas aprendam, raciocinem e tomem decisões de forma parecida com os seres humanos. A IA não “pensa” como uma pessoa, mas é capaz de reconhecer padrões, aprender com dados e realizar tarefas de forma autônoma.
Exemplo: sistemas que reconhecem rostos, detectam fraudes ou recomendam filmes.
Analogia: como ensinar uma criança a reconhecer gatos. Após ver milhares de fotos, ela aprende os traços que definem “gato” e consegue identificar outros por conta própria.
IA Generativa (Generative AI)
É um tipo específico de IA que cria algo novo com base no que aprendeu: textos, imagens, músicas, códigos, vídeos, entre outros. Enquanto outras IAs classificam ou preveem, a generativa inventa e produz.
Exemplo: ChatGPT escreve textos; DALL·E cria imagens; Suno gera músicas.
Analogia: é como um(a) artista que estudou milhões de obras e agora cria algo original inspirado em tudo o que viu.
Modelo de Linguagem de Grande Escala (LLM – Large Language Model)
São modelos de IA treinados com enormes quantidades de textos para aprender a entender e gerar linguagem humana. Eles funcionam prevendo qual palavra faz mais sentido vir depois da outra, um pouco como completar uma frase mentalmente.
Exemplo: GPT-4, Gemini, Claude, Llama.
Uso: chatbots, assistentes virtuais, tradutores automáticos e copilotos de código.
Analogia: imagine um(a) amigo(a) que leu tudo o que existe na internet — ele não sabe tudo sobre o mundo real, mas sabe conversar sobre quase qualquer assunto.
Agente de IA
É uma IA com “autonomia” para agir: ele pode receber um objetivo e tomar decisões para alcançá-lo, sem precisar que alguém o guie a cada passo. O agente pode chamar APIs, buscar informações, executar ações e até coordenar outras IAs.
Exemplo: um agente que gerencia seus e-mails, responde mensagens e agenda reuniões sozinho. Em empresas, agentes já ajudam em tarefas como suporte, marketing e análise de dados.
Analogia: se o modelo de linguagem é o cérebro, o agente é o corpo que se move e executa o plano.
Orquestração (Orchestration)
Na Inteligência Artificial e em sistemas de software, orquestração é o processo de coordenar várias ações, agentes ou serviços para trabalharem juntos de forma harmoniosa e automatizada em direção a um mesmo objetivo.
Um agente de IA pode realizar uma tarefa sozinho, mas quando há várias etapas, múltiplas ferramentas ou diferentes agentes envolvidos, é preciso orquestrar tudo isso — garantindo que cada parte aconteça na hora certa, na sequência certa e com os dados certos.
Exemplo: Imagine um fluxo onde:
um agente busca informações de um site,
outro agente resume o conteúdo,
e um terceiro gera uma postagem com o resumo.
A orquestração é o que conecta e coordena essas etapas, garantindo que o resultado final faça sentido.
Analogia: assim como um maestro conduz uma orquestra, garantindo que cada instrumento entre no momento certo, a orquestração na IA faz com que diferentes “instrumentos tecnológicos” (agentes, APIs, modelos) toquem juntos a mesma música.
Prompt
É o comando ou pergunta que damos à IA. Um bom prompt é claro, contextual e orientado. Quanto mais específica for a instrução, melhor a resposta.
Exemplo:
❌ “Escreva sobre IA.”
✅ “Escreva um artigo de 3 parágrafos explicando IA generativa de forma simples, com exemplos do dia a dia.”
Analogia: conversar com a IA é como dar instruções para alguém muito inteligente, mas sem contexto. Se você for vago, a resposta também será vaga.
Token
Unidade mínima de texto que a IA entende. Pode ser uma palavra, parte de uma palavra ou até um espaço. Os modelos de linguagem processam os textos em tokens, e o número de tokens define o “tamanho” da conversa que a IA consegue compreender de uma vez.
Exemplo: a frase “A IA é incrível!” pode ter 5 tokens.Modelos têm limites, como “8.000 tokens” ou “128.000 tokens”, o que determina quanta informação eles conseguem manter em memória no diálogo.
Analogia: tokens são como peças de um quebra-cabeça que, juntas, formam o texto completo.
Treinamento
Etapa em que a IA aprende a partir de dados. Durante o treinamento, o modelo analisa milhões (ou bilhões) de exemplos para ajustar seus “pesos internos” e aprender padrões.
Exemplo: durante o treinamento, o modelo lê textos e aprende que “café” e “xícara” costumam aparecer juntos.
Analogia: é como o período de aprendizado de uma pessoa, quanto mais experiências ela tem, mais consegue generalizar e aplicar em novas situações.
Inferência
Momento em que a IA usa o que aprendeu para gerar respostas, textos, imagens ou previsões. Não há aprendizado novo aqui, é o “modo uso”, não o “modo estudo”.
Exemplo: quando você faz uma pergunta ao ChatGPT, ele entra em modo de inferência para gerar a resposta.
Analogia: se o treinamento é estudar, a inferência é fazer a prova.
Fine-tuning
Processo de ajustar um modelo já treinado para uma tarefa específica. Em vez de treinar tudo do zero, aproveitamos o conhecimento geral do modelo e o refinamos com dados especializados.
Exemplo: pegar um modelo de linguagem genérico e ajustá-lo para entender o vocabulário médico.
Analogia: é como um(a) médico(a) que fez faculdade de medicina (treinamento) e depois se especializou em cardiologia (fine-tuning).
Ferramentas (Tools)
São recursos externos que um agente de IA pode usar para agir no mundo real. Por exemplo, acessar um banco de dados, enviar e-mails ou buscar informações na web.
Exemplo: um agente pode usar a ferramenta “buscar no Google” ou “enviar mensagem no Slack”.
Analogia: se a IA é o cérebro, as ferramentas são as mãos e os olhos que permitem que ela interaja com o ambiente.
Contexto
É o conjunto de informações que a IA tem disponíveis no momento da conversa. O modelo não “lembra” de tudo permanentemente, então entender o contexto é fundamental para gerar respostas coerentes.
Exemplo: se você pergunta “qual é o melhor restaurante?”, o contexto é importante para saber em qual cidade você está.
Analogia: conversar com a IA sem contexto é como entrar no meio de uma conversa e tentar adivinhar o assunto.
Viés (Bias)
Tendência que surge quando a IA aprende padrões desequilibrados ou injustos durante o treinamento, reproduzindo estereótipos ou distorções dos dados.
Exemplo: se um modelo foi treinado com poucos textos escritos por mulheres, ele pode gerar respostas menos neutras sobre esse grupo.
Analogia: é como formar uma opinião baseada apenas em um lado da história.
Privacidade e Segurança de Dados
Refere-se à forma como os dados usados por modelos de IA são armazenados, processados e protegidos. É essencial garantir que informações pessoais não sejam usadas sem consentimento.
Exemplo: muitas ferramentas de IA possuem versões empresariais com armazenamento seguro e sem uso dos dados para re-treinamento.
Analogia: assim como não deixamos documentos importantes abertos em público, também precisamos cuidar do que entregamos para uma IA.
IA Colaborativa
Conceito que descreve a interação humano + máquina, em que a IA não substitui, mas complementa o trabalho humano. O papel da pessoa passa a ser orientar, revisar e dar propósito à tecnologia.
Exemplo: designers que usam IA para rascunhar ideias, jornalistas que pedem resumos iniciais ou desenvolvedores que usam copilotos de código.
Analogia: é como trabalhar com um assistente criativo que nunca se cansa, mas precisa da sua direção.
Generalização
Capacidade da IA de aplicar o que aprendeu em novos contextos. Um modelo com boa generalização entende que “maçã” e “banana” são frutas, mesmo que nunca tenha visto essa relação direta nos dados de treino.
Analogia: é como entender que, se você sabe andar de bicicleta, provavelmente conseguirá andar de patinete mais facilmente porque já entende o equilíbrio.
Arquitetura de Modelo
Refere-se à forma como o modelo é estruturado internamente — como os neurônios artificiais se conectam e processam informação. Nos LLMs, a arquitetura mais usada é a Transformer, introduzida pelo artigo “Attention is All You Need” (Google, 2017).
Exemplo: GPT, BERT, T5 e Claude são modelos baseados nessa arquitetura.
Analogia: se o modelo é um prédio, a arquitetura é o projeto estrutural que define como os andares e salas se conectam.
Mônica Helena Ribeiro é back-end developer há mais de uma década, com foco em Java e arquitetura de sistemas. Atua como especialista na Zup, impulsionando soluções resilientes e escaláveis. Apaixonada por compartilhar conhecimento sobre arquitetura, código limpo, observabilidade e o papel da IA no futuro do desenvolvimento.
Revisora
Jayne L. Oliveira é jornalista e produtora editorial.