Por muito tempo, a evolução da inteligência artificial foi medida pelo tamanho dos modelos, complexidade das arquiteturas e pelos benchmarks de NLP.
Falávamos da “Era da Gen AI” como se ela fosse o estado final da tecnologia, mas 2025 marca a transição mais importante desde o surgimento dos Transformers: a migração da IA baseada em modelos para a IA baseada em agentes.
E essa mudança já está documentada em papers, frameworks de engenharia e padrões que começam a ganhar força no mercado.
Da Era dos Modelos à Era dos Agentes
A indústria de IA foi, até 2024, dominada pelos LLMs (Large Language Models). Na Era dos Modelos, o fluxo era linear (prompt → resposta). Tudo girava em torno de:
- quem tinha o modelo mais poderoso
- maior janela de contexto
- maior benchmark no MMLU
- maior precisão no HumanEval
- menor perplexidade
- maior capacidade de seguir instruções (alignment)
O que é a “Era dos Modelos”?
É a era do prompt → resposta. O fluxo consiste em três passos:
- Usuário envia uma instrução
- LLM interpreta o texto
- LLM gera uma resposta textual
O modelo não tomava decisões, nem executava ferramentas ou planejava ações. Eles podiam dizer como resolver um problema, mas não podiam executar a solução no mundo real.
Exemplos da Era dos Modelos
- ChatGPT 3.5 respondendo perguntas
- Bard/Gemini como chatbot
- Modelos closed-box gerando texto, código, resumo ou análise
- Copilot escrevendo trechos de código
- Ferramentas de IA que basicamente “geravam conteúdo”
Mas, em meados de 2024, o mercado percebeu que modelos são incríveis para raciocinar, mas são insuficientes para agir. E o mundo real exige ação.
Assim, nasce a Era dos Agentes.
O que inaugura a Era dos Agentes?
Agentes são sistemas que não apenas respondem — eles agem, tomam decisões e executam tarefas. O fluxo agora tem mais etapas:
- Perceber a tarefa (interpretar objetivo)
- Planejar (decompor o problema em subtarefas)
- Decidir (qual ação tomar, em qual ordem)
- Executar ferramentas/APIs
- Observar o resultado
- Iterar até completar a tarefa
- Validar sua própria saída
Mas o agente deixou de ser apenas um modelo que responde às perguntas do usuário e passou a ser um sistema capaz de executar um ciclo cognitivo.
Por que essa mudança aconteceu?
A indústria descobriu que:
- Empresas não precisam de respostas — precisam de ações.
Responder como corrigir um bug não é o mesmo que corrigir o bug. - O gargalo não está no raciocínio, mas na execução.
Modelos já são bons em pensar; agora precisam agir no mundo. - Fluxos corporativos exigem ferramentas. Nenhuma empresa vive só de texto:
-
- precisa chamar APIs
- integrar com GitHub
- atualizar banco de dados
- interagir com CI/CD
- validar regras de negócio
- consultar logs
-
- A autonomia dos agentes aumenta o ROI da IA. Responder custa pouco. Fazer economiza MUITO
Exemplos reais que mostram a mudança para agentes
AutoGPT (2023)
Primeiro grande protótipo de agente autônomo.
- Definia um objetivo (ex: criar um plano de negócios)
- Gerava subtarefas
- Pesquisava
- Iterava
- Validava
- Agia
Apesar de instável, mostrou o caminho.
Devin, o “primeiro engenheiro de software de IA” (2024)
Capaz de:
- planejar tarefas
- executar código
- depurar
- rodar testes
- instalar dependências
- abrir PR
É literalmente um agente executor com autonomia limitada.
ReAct + Toolformer
Papers da Google e do Facebook que introduziram:
- raciocínio + ação
- uso inteligente de ferramentas
- agentes que sabem quando chamar uma API
São a fundação técnica dos agentes modernos.
OpenAI O1 e O3 (2025)
Modelos que:
- planejam
- debate interno (multi-step reasoning)
- usam ferramentas dinamicamente
- se autoavaliam
- executam pipelines
A própria OpenAI afirma que o futuro da IA não é sobre modelos; é sobre agentes.
StackSpot AI (Brasil, 2024–2025)
A StackSpot não só está alinhada à tendência global — ela materializa a Era dos Agentes:
- agentes especialistas
- agents-to-agents (A2A)
- ferramentas externas
- integração corporativa
- KS + RAG inteligente
- spots como ambientes de execução
- monitoramento e auditoria
- limites de ação e segurança
É literalmente o ecossistema de agentes mais acessível e aplicável do Brasil.
O que separa modelos de agentes na prática?
| ERA DOS MODELOS | ERA DOS AGENTES |
| Gera respostas | Executa tarefas |
| Precisa de prompts longos | Entende objetivos |
| Depende da habilidade do usuário | Tem raciocínio processual |
| Não chama ferramentas | Usa ferramentas e APIs |
| Não planeja | Decompõe problemas |
| Não valida | Verifica, monitora e corrige |
| Atua isolado | Atua em sistemas |
| Risco alto de alucinação | Fluxo controlado com validação |
Aonde isso nos leva?
Próximos 2 anos → Agentes especialistas coordenados
- planejador
- executor
- revisor
- pesquisador
3–5 anos → Agentes que colaboram entre si
- ecossistemas multiagentes
- delegação inteligente
- fluxos cognitivos distribuídos
5–7 anos → Sistemas autônomos confiáveis
- validação embutida
- governança corporativa de IA
- auditoria interpretável
- autonomia controlada por protocolos (MCP, A2A, Guardrails, Action Constraints)
O avanço dos protocolos e padrões (MCP, A2A, AgentOps, ToolFormer, ReAct)
A nova geração de agentes está se apoiando em protocolos e frameworks que antes não existiam:
- MCP (Model Context Protocol) – Anthropic
Padrão para integrar agentes com ferramentas, serviços externos e sistemas legados com segurança, autorização e rastreabilidade. - A2A (Agent-to-Agent Protocols)
Fluxos de colaboração entre agentes, com mensagens estruturadas que seguem padrões como:- JSON-RPC
- ReAct (Reason + Act) – paper da Google
- CAMEL (Collaborative Agents) – paper que redefiniu coordenação multiagente
- Vectored Delegation – Stanford
- AutoGen – Microsoft Research
- ReAct + ToolFormer
Dois papers que criaram a base da atuação de agentes:- ReAct: modelos capazes de intercalar raciocínio e ação
- ToolFormer: modelos que aprendem a usar ferramentas sozinhos
- AgentOps Patterns
Novos padrões de engenharia:- Planner → Solver → Checker
- Critic → Executor → Optimizer
- Multi-step Reasoning (Chain-of-Thought)
- Self-Reflective Agents (Reflexion, DeepMind 2024)
- Safety Loops e Action Guards
O papel do ecossistema StackSpot AI na Era dos Agentes
A StackSpot AI se posiciona exatamente nessa transição. Na documentação oficial já vemos conceitos modernos, raros no mercado brasileiro:
- agentes especialistas
- multiagentes cooperativos
- ferramentas integradas como unidades autônomas de ação
- spots como ambientes encapsulados de execução
- fontes de conhecimento indexadas com vetores e RAG
- orquestração cognitiva
- monitoramento e logs interpretáveis
- limites de ação e validação
Os conteúdos do YouTube reforçam as práticas emergentes:
- engenharia de agentes
- decomposição de tarefas
- validação automática (self-critique)
- padrões de governança
- integração com pipelines reais
A StackSpot consolida, na prática, a nova base da engenharia de IA.
O que vem depois? As próximas fronteiras
A nova pergunta da IA não é mais “o que o modelo consegue gerar?”, mas:
- Como sistemas inteligentes cooperam?
- Como agentes assumem tarefas reais com segurança?
- Como evitamos alucinação operacional?
- Como garantimos autonomia sem perder controle?
A seguir, conheça cada uma das cinco fronteiras que dominarão os próximos 3–5 anos.
Cognição Distribuída – A IA que pensa em equipe
A próxima geração de IA não será composta por um agente superpoderoso, mas por vários agentes inteligentes que raciocinam juntos, inspirados em sistemas biológicos e cognitivos distribuídos.
Cognição distribuída é a capacidade de:
- dividir pensamento e responsabilidade
- raciocinar simultaneamente sobre aspectos paralelos
- manter memória compartilhada (ou parcialmente compartilhada)
- construir planos colaborativos
- trocar mensagens estruturadas
- revisar decisões uns dos outros
Tecnologias e pesquisas que dão suporte para esses agentes:
- CAMEL Framework (Collaborative Agents) – Stanford
- AutoGen (Microsoft) – agentes auto-organizados
- Voyager (OpenAI/Stanford) – agente que aprende a ensinar outro agente
- SAMB A (Meta) – raciocínio multiagente simbólico
- Neuro-Symbolic AI – integração entre lógica formal e redes neurais
Exemplo prático corporativo
Imagine um fluxo de desenvolvimento em uma empresa onde:
- Agente A: identifica vulnerabilidade
- Agente B: sugere correção
- Agente C: valida impacto em arquitetura
- Agente D: cria PR
- Agente E: atualiza documentação
Eles cooperam sem caos — isso é cognição distribuída.
Ambientes Simulados de Teste (Sim2Real) – A nova QA da IA
IA não pode ser testada como software tradicional. Agentes autônomos exigem lógica emergente e isso só aparece em ambiente controlado.
O que é Sim2Real?
É a prática de:
- testar agentes em ambientes sintéticos
- simular falhas, caos e exceções
- validar comportamento emergente
- medir capacidade de recuperação
- analisar consistência sob pressão
- detectar alucinação operacional
Termo técnico emergente
Agentic QA – usado por Google, Stanford e CMU.
Exemplos de cenários de teste
- Um agente recebe dados incompletos — ele para? tenta inferir? cria problema?
- Uma tool externa retorna erro 500 — ele tenta de novo? troca de abordagem?
- Dois agentes recebem mensagens contraditórias — como resolvem conflito?
- Ciclos longos — o agente mantém coerência ou “enlouquece” ao longo do fluxo?
Impacto corporativo
Para bancos, saúde e governo, Sim2Real será tão obrigatório quanto testes unitários.
Autonomia Controlada (Constrained Autonomy) – Liberdade com limites
O mundo real não pode permitir agentes 100% autônomos (é arriscado, inseguro e juridicamente inviável). Por isso, nasce a autonomia controlada. Isso significa que agentes podem planejar, decidir e agir, mas apenas dentro de limites explícitos, como:
- papéis bem definidos
- listas de ferramentas permitidas
- regras proibidas
- filtros semânticos
- verificadores humanos ou agentes críticos
- action guards
- validação obrigatória antes de executar certas tarefas
Padrões que surgem
- Action Guards – barram ações arriscadas
- Human-in-the-loop – confirmações em tarefas críticas
- Self-critique loops – agente revisa antes de agir
- Multi-agent validation – sempre ter um revisor
- Escalation Protocols – agente pede ajuda quando ultrapassa limite
Agentes podem ser poderosos, mas precisam ser seguros antes de tudo.
AI Workflow Engineering – A engenharia de sistemas cognitivos
Da mesma forma que tivemos DevOps, MLOps e DataOps, nasce agora a AI Workflow Engineering: a engenharia responsável por orquestrar o fluxo lógico do raciocínio e ação de agentes.
Novos padrões emergentes
- Stateful Reasoning Graphs: Representam graficamente como um agente raciocina ao longo do tempo — com checkpoints, memória e estados.
- Cognitive Pipelines: Pipelines onde cada agente executa uma etapa do raciocínio.
- Hierarchical Task Decomposition: Problemas grandes são quebrados em árvores de subtarefas.
- Delegation Trees: Planner cria subárvores para diferentes agentes especialistas.
- Reflexion Loop: Agente aprende com seus erros em tempo real.
- ReAct Pattern: Raciocínio misturado com ação: think → act → observe → think.
Exemplo prático
Criar um PR seguro não é mais uma tarefa única:
- Planejador cria plano
- Pesquisador busca documentos
- Desenvolvedor gera PR
- Revisor valida segurança
- Auditor garante compliance
Isso é engenharia de workflow cognitivo.
Trusted AI e Governança Avançada – Como garantir agentes confiáveis
Com agentes atuando em sistemas reais, surgem novas responsabilidades.
Pilares da Trusted AI
- Auditoria Completa: Tudo que o agente faz deve ser rastreável.
- Explicabilidade Operacional: Não basta explicar o raciocínio — é preciso explicar a decisão.
- Logs Interpretáveis: Logs que humanos conseguem ler e validar.
- Cadeia de Responsabilidade: Quem responde pelo erro do agente? Quem valida ações críticas?
- Detecção de Desvios Cognitivos: Agentes podem
-
- perder coerência
- mudar de intenção
- confundir contexto
- entrar em loops
- alucinar em etapas avançadas
A governança deve detectar e mitigar isso.
Benchmarks emergentes
- AgentBench (2024) – avalia agentes em tarefas reais
- Evals for Agents (OpenAI) – testes de autonomia segura
- Meta Agentic Safety Framework – segurança operacional
Por que isso será obrigatório até 2027?
Assim como DevOps virou padrão após 2015, AgentOps + AI Governance serão padrão para qualquer empresa que use agentes em produção.
O que aprender agora para sair na frente?
Se você quer realmente dominar a Era dos Agentes, estes são os temas que vão colocar você anos à frente do mercado.
Orquestração Multiagente
O novo “backend cognitivo” dos sistemas inteligentes.
Por que é importante?
O futuro não é um agente superpoderoso, mas vários agentes especialistas coordenados.
Aprender orquestração é entender:
- fluxos cognitivos
- delegação
- planos hierárquicos
- validação por múltiplos agentes
- rotas de decisão
- coerência entre agentes
O que estudar?
- ReAct (Reason + Act) — Fundação dos agentes modernos
- AutoGen (Microsoft Research) — Framework mais influente no multiagente
- CAMEL (Cooperative Agents for Machine Learning) — Agentes colaborativos
- Arquitetura Planner → Executor → Reviewer
Base dos fluxos corporativos e da StackSpot AI.
Protocolos Modernos (MCP, A2A, JSON-RPC, Tool APIs)
Se os agentes são cérebros, os protocolos são o sistema nervoso.
Por que importa?
Agentes precisam se conectar ao mundo: APIs, bancos, sistemas legados, pipelines, outros agentes.
O que estudar?
- MCP – Model Context Protocol (Anthropic)
Padrão emergente do mercado. - A2A – Agent-to-Agent Protocols
Essencial para multiagentes. - JSON-RPC 2.0 (base da maioria dos protocolos de agentes)
- Tool APIs (OpenAI, Anthropic, StackSpot)
- OpenAI Tools
- Anthropic Tools
- StackSpot AI Tools (conceito de Spots)
Arquitetura Cognitiva de Agentes
Como um agente pensa? Como raciocina? Como planeja?
Por que importa?
Para construir agentes robustos, é preciso dominar:
- decomposição de tarefas
- cadeias de raciocínio
- raciocínio iterativo
- reflexion (autoavaliação)
- planejamento hierárquico
O que estudar?
- Chain-of-Thought (CoT)
- Tree of Thoughts (ToT)
Agentes explorando múltiplos caminhos - Reflexion (Self-Reflective Agents)
Mecanismo de aprendizado contínuo - Voyager (OpenAI/Stanford)
Agente autônomo permanente num mundo aberto
Ferramentas Externas (onde os agentes realmente brilham)
Um agente sozinho é só um modelo com loop. Agentes se tornam úteis quando podem agir.
O que dominar:
- chamadas a APIs REST
- integração com GitHub (Issues, PR, Code Review)
- CI/CD (Jenkins, GitHub Actions, GitLab)
- bancos (SQL e NoSQL)
- mensageria (Kafka, RabbitMQ, SQS)
- servidores e containers
- logs (Datadog, Grafana, Kibana)
Recursos úteis
RAG Avançado (Search + Retrieval + Ranking)
O RAG básico morreu. O futuro é RAG inteligente + filtragem semântica + re-ranking.
O que aprender:
- indexação por domínios
- chunking inteligente
- re-ranking com modelos cross-encoder
- filtragem semântica
- KS especializados
- pipelines híbridos (RAG + Tools + Agents)
Links importantes
- RAG – Retrieval-Augmented Generation
- Re-ranking com BERT
- Pinecone RAG avançado (conceitos universais)
Monitoramento, Observabilidade e Governança (AgentOps)
Agentes sem monitoramento são perigosos. Agentes com logs são poderosos. O futuro é: cada ação precisa ser rastreável.
O que aprender:
- logs estruturados (JSON logging)
- trilhas de auditoria
- ferramentas como Datadog, Prometheus, Grafana
- interpretabilidade operacional
- limites de ação (action boundaries)
- métricas de agentes
Referências:
- AgentOps (Microsoft Research)
OpenAI Evals (útil para testar agentes)
StackSpot AI – Monitoramento
Segurança Aplicada a Agentes (Agent Safety & Governance)
Quanto mais autônomo o agente, maior a necessidade de contenção e auditoria.
Estude especialmente:
- Action Guards (bloqueio de ações proibidas)
- Model Constraints (limites de raciocínio)
- Escalation Procedures (quando um agente pede ajuda)
- Validadores independentes (Reviewer Agents)
- Segurança em ferramentas (IAM, roles, acessos)
- prevenção de alucinação operacional
Referências avançadas
- Anthropic AI Safety docs
- OpenAI Universal Agents Safety
- Constrained Decision-Making for Autonomous Agents
Ir além é assumir protagonismo na construção do futuro
Ir além não é aprender tudo, é aprender o que importa, antes do resto do mercado e entender agora aquilo que será padrão daqui a dois anos.
É dominar agentes, orquestração, governança, ferramentas, simulação, colaboração multiagente, e usar tudo isso para criar soluções que respeitem pessoas e ampliem oportunidades.
O convite para a nova era é: Não pare na Era dos Modelos. Entre na Era dos Agentes e lidere a Era da Autonomia Segura.
Porque o futuro da IA não vai ser definido pelos maiores modelos, mas pelas melhores pessoas engenheiras e pelos melhores valores.
Eu espero que você esteja lá, na linha de frente.
Letícia Alcântara Lima é Head de Tecnologia na Zup Innovation, com 14 anos de experiência em software, segurança e inteligência artificial. Atua impulsionando inovação responsável e desenvolvimento seguro, liderando times diversos. É uma voz ativa na luta por mais mulheres e pluralidade na tecnologia, acreditando que IA com propósito transforma vidas.
Revisora
Jayne L. Oliveira é jornalista e produtora editorial.