Confira dicas sobre o que o fazer para criar ou manter uma cultura forte e que engaje as pessoas que colaboram com o desenvolvimento do empreendimento

 

Sou diretora executiva de uma startup que há 5 anos luta em prol da democratização da educação financeira no Brasil.

Até aqui, nenhum estranhamento.

Sou administradora, de formação, e pós-graduada em História e Cultura Africana e Afro-brasileira.

Talvez você esteja se perguntando como um tema se relaciona com o outro, mas juro que vai fazer sentido até o fim deste texto.

A cereja do bolo é que sou mulher, negra, tenho 25 anos e comecei a empreender aos 19.

Claro que a maioria de diretores empresariais, independentemente da área de atuação ou do tamanho de sua organização, enfrenta dilemas quando o assunto é liderança, mas você deve imaginar que esse processo não tem sido nada fácil para mim, especialmente.

Ao longo desses anos empreendendo, me desenvolver enquanto uma boa líder sempre foi uma grande prioridade, afinal sabemos da importância de conviver com chefias inspiradoras, confiáveis e encorajadoras. E isso me fez (e faz) pensar e repensar cada decisão que tomo em prol da equipe todos os dias.

Para a população brasileira, a pandemia tem sido um desafio maior do que seria possível imaginar inicialmente. Uma das minhas maiores preocupações, no último ano, tem sido manter o time engajado e reforçar a cultura da empresa, mesmo trabalhando à distância. No contexto pandêmico, as startups podem apresentar certa vantagem nesse quesito por terem equipes mais enxutas, engajadas no desenvolvimento de suas soluções e já adotarem, mesmo antes da pandemia, uma forma mais autônoma de trabalho.

Porém, mesmo que as startups tenham alguma vantagem, ainda é uma situação bastante complicada. Nossa forma de trabalhar e se relacionar neste ambiente sofreu uma mudança brusca em 2020 e, mesmo para quem adotou o formato híbrido, ainda há certas dificuldades. Até hoje, é comum nos enrolarmos com as plataformas online, com o horário de entrada e saída do expediente e com as reuniões, que parecem se multiplicar ao longo do dia. Além disso, em home office, é muito mais fácil perder a noção do tempo, acordar já encarando a tela do computador e dormir respondendo mensagens do grupo da empresa. Também é fácil, para quem encontra barreiras em seguir uma rotina, perder os prazos das entregas, se distrair com os afazeres da casa e acabar se sentindo menos produtivo/a do que era no escritório.

Com tudo isso acontecendo ao mesmo tempo, tenho refletido bastante sobre maneiras de reforçar a cultura que construímos nesses 5 anos. No campo da Administração, cultura organizacional significa “o conjunto de hábitos e crenças estabelecidos através de valores, atitudes e expectativas compartilhados por todos os membros da organização”. Isso significa que essa cultura não é algo que conseguimos moldar de um dia para o outro. Demanda tempo, constância e a criação de um relacionamento de confiança entre o time. Ela também é responsável por ditar o ritmo das partes colaboradoras, seu engajamento, a forma como enxergam suas tarefas e, consequentemente, influencia nos resultados e no clima da empresa. 

A partir disso tudo, você deve estar se perguntando: o que eu posso fazer para criar ou manter uma cultura forte e que engaje as partes colaboradoras do meu trabalho? Vou deixar algumas dicas preciosas aqui.

Comece pelo propósito.

Parece clichê, mas é verdade. A empresa pode oferecer um excelente salário e benefícios incríveis para seus/suas colaboradores/as, mas o propósito por trás do trabalho tem um poder maravilhoso no engajamento do time. Saber que você está trabalhando em prol de um objetivo maior, que gera impactos sociais e/ou ambientais positivos e que, acima de tudo, pode melhorar a vida de milhares de pessoas é um baita incentivo para fazer o seu melhor, certo? A motivação intrínseca é uma tendência natural do ser humano e é ativada quando nos identificamos com o propósito da organização ou da atividade que estamos realizando. Essa conexão, que vem de dentro, pode aumentar nossa produtividade, autoestima e, inclusive, gerar um sentimento de gratidão pelos nossos feitos. É tudo de bom, né?! Então não deixe de evidenciar o propósito da sua organização e buscar empresas parceiras ou clientes que realmente se importem com a causa que trabalham. Isso faz toda a diferença.

E o acolhimento, fica onde?

Estar em um ambiente que muda rápido, em um mercado de trabalho que muda mais rápido ainda, gera muitas inquietações. Com certeza, você já se sentiu pouco competente para alguma tarefa ou acreditou que sua entrega não era boa o suficiente. Esses sentimentos impostores, tão famosos, são comuns na carreira das mulheres, mas não podemos permitir que essas sensações nos dominem. Por isso, criar um ambiente que acolhe os erros e, principalmente, as vulnerabilidades, é importante para o fortalecimento de uma cultura organizacional que prioriza as pessoas e o seu bem-estar. Afinal, ninguém gosta de passar muito tempo em um ambiente austero, pouco amigável e intimidante, certo? Por isso, sempre priorizo compartilhar as novidades da semana, sejam boas ou ruins, contar histórias pessoais, dividir fatos engraçados e mostrar os resultados do que produzimos. Ser acessível e humana gera um movimento maior e mais bonito do que podemos imaginar. Invista em uma comunicação fluída e aberta.

Para onde estamos indo?

É claro que nem só de propósito vive um time. É necessário deixar nítido que existe um espaço fértil para o desenvolvimento das pessoas que colaboram com o negócio. Criar um plano de carreiras significa mostrar para o time que existem degraus preciosos a serem galgados ao longo de suas trajetórias dentro da organização. Esse crescimento profissional (e financeiro) é um motivador extrínseco importante para engajar aqueles que buscam o reconhecimento de colegas e supervisores, maiores salários, posições de liderança e, claro, deixar seu legado na empresa. Todas as pessoas gostam de ser reconhecidas pelos seus feitos e uma ótima forma de fazer isso é garantir uma promoção ou bônus. Para além do desenvolvimento profissional e a conquista de novos cargos, é muito estimulante receber convites para cursos ou projetos especiais. Isso mostra que a empresa valoriza o trabalho realizado e quer investir em seus talentos. 

E na hora dos conflitos?

É, queridas, os conflitos acontecem nas melhores famílias. Mesmo com uma cultura de acolhimento e entrosamento entre o time, é possível que algumas desavenças venham à tona ou algum desentendimento aconteça. Nessas horas, a decisão mais acertada é ouvir os dois lados, entender o que aconteceu e buscar a reconciliação entre as pessoas envolvidas. Apontar o dedo, ir em busca de um(a) culpado(a) ou fingir que nada está acontecendo podem ser erros terríveis, que afastam ainda mais a equipe e geram um clima de competição e estranhamento. Para evitar essas situações desagradáveis, crie rodadas de feedbacks constantes, como parte das reuniões bimestrais ou trimestrais da empresa. Essa é uma prática que aprecio bastante, incentivo e, inclusive, gosto de participar. Na empresa, costumamos chamar essa dinâmica de “cadeira quente” e, por mais que o nome pareça ruim, é um momento bastante esperado por todas as pessoas. Como funciona? As/Os participantes se sentam em círculo e colocamos uma cadeira vazia no meio. Na primeira rodada, uma pessoa se senta por vez na cadeira do centro da roda e escuta todos os feedbacks negativos de suas companhias de trabalho. Ela não pode rebater os comentários, apenas anotar aquilo que faz sentido para si. Depois que todas as pessoas passam por essa rodada, iniciamos uma nova, só com os feedbacks positivos. A pessoa do centro da roda também não pode falar nada, apenas ouvir e anotar, caso queira. Assim, construímos um ambiente seguro e aberto para escutar ativamente e verbalizar as dores e as delícias de se trabalhar naquele time, sempre com um tom agregador e cheio de sinceridade. Normalmente, terminamos chorando, abraçando, beijando, brindando, felizes por termos novos pontos para evoluir nosso trabalho e, claro, por saber que temos vários pontos positivos que estão sendo notados. Cultura de feedbacks é essencial para dar certo.

Ufa! Falei bastante, né?! Espero que, de alguma forma, essas dicas ajudem no processo de se descobrir líder e traga melhores resultados para a sua empresa. É um processo difícil, de erros e acertos, mas que constrói um espaço muito mais animado de se trabalhar.

Talvez você esteja se questionando: mas, Bia, ainda não entendi o que a sua pós-graduação em História e Cultura Africana e Afro-brasileira, que você citou logo no início do texto, tem a ver com tudo isso. Bom, mesmo formada em Administração e trabalhando com Educação Financeira, sempre busquei entender o motivo das coisas. Para mim, era inconcebível criar metodologias de ensino que não conhecessem as vivências de seu público, seus motivos e angústias. Foi por isso que mergulhei na história e cultura do nosso país e busquei, em minhas origens africanas, ressignificar e evoluir o meu trabalho. Sugiro o mesmo para você. Seja na busca por novas e melhores maneiras de liderar, na construção de uma cultura sólida, na estruturação dos processos do seu negócio ou no crescimento das vendas, é importante que você mergulhe nas razões do que faz e adentre naquilo que busca transformar.

Sem conhecer o passado, não compreendemos o presente e encontramos dificuldades em construir o futuro que almejamos.

Frase bonita, né?! É inspirada no significado de um ideograma africano chamado Sankofa, oriundo dos povos acãs, da África ocidental. Todo estudo tem o seu propósito.

Busque suas referências, assim você nunca estará sozinha.

 

CRÉDITO:

Bia Santos, CEO da Barkus Educacional Reconhecida pela Forbes na lista Under 30 na área de Ciência e Educação, é graduada em Administração pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e Universidade do Porto e pós-graduanda em História e Cultura Africana e Afro-brasileira pelo Instituto Pretos Novos, onde pesquisa diversidade organizacional e finanças com foco em questões raciais. É apaixonada por gestão de empreendimentos sociais e CEO da Barkus Educacional, edtech social de inclusão e educação financeira, uma das startups vencedoras do Menos30Fest, festival de empreendedorismo da Rede Globo.  Redes sociais: https://www.linkedin.com/in/soubiasantos/ 

REVISÃO:

Luciana Fleury, jornalista Formada em Jornalismo pela Cásper Líbero. Tem trabalhado com o desenvolvimento de projetos editoriais, produção de conteúdos e edições de textos. É mãe orgulhosa da Gabriela e coleciona globos de neve. Redes sociais: https://www.linkedin.com/in/luciana-fleury-1b024083/

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