Não basta saber programar: para encontrar a primeira oportunidade em TI é necessário, primeiro, escolher em qual área se deseja atuar. Confira dicas! 

 

Imagine a seguinte situação: você se formou na faculdade, terminou um curso técnico ou até mesmo decidiu mudar completamente de área. Agora é só procurar um emprego, esperar ser chamada e começar a trabalhar. Simples, certo? Nem tanto…

Um pouco da minha história

Eu fiz a graduação em Ciência da Computação e, logo depois, já entrei no mestrado, que também era na área. Eu tinha certeza de que ia seguir uma carreira acadêmica e já tinha o plano certinho na minha mente: terminar o mestrado, iniciar o doutorado, terminar o doutorado, passar em um concurso ou ir pra fora do país. Fim! Tudo certo, né? Nada. Já no fimzinho do mestrado comecei a me questionar se queria mesmo prosseguir na carreira acadêmica. Não estava tão animada com a possibilidade, mas, ao mesmo tempo, eu me sentia muito insegura para tentar algo diferente. 

Eu nunca havia trabalhado em uma empresa de tecnologia antes – o mais próximo a isso, até então, tinha sido um estágio no departamento de TI da faculdade – estava bastante desatualizada com os termos, linguagens e práticas do mercado e mal sabia por onde começar. Mas, de qualquer forma, eu gostava de programar, adorava abstrair os problemas do mundo real e transformar em soluções computacionais. E foi aí que decidi procurar um emprego como desenvolvedora.

A partir desse momento, me deparei com um mundo de nomenclaturas, conceitos e termos técnicos pouco familiares. OK, eu sabia programar, conhecia diversas linguagens, dominava conceitos teóricos da Computação. Mas… o que é um QA, gente? UX? Full Stack? Eu achava que tudo se resumia a ser uma pessoa programadora! Risos nervosos. Isso sem entrar nos “sobrenomes” de cada cargo: Pessoa Desenvolvedora Junior. Oi? Pessoa Desenvolvedora Pleno. Quê? Pessoa Desenvolvedora Sênior. Ah, acho que sou muito nova para isso ainda. E eu crente que era saber programar. 

 

Não é só sobre saber programar: como eu escolhi em qual área de tecnologia eu queria atuar

Uma das coisas mais complicadas para mim foi decidir qual caminho tomar, porque há muitas possibilidades dentro da área. Caso você esteja pensando em se aplicar para uma vaga de desenvolvimento, há mais aspectos a serem considerados do que simplesmente saber uma linguagem de programação. Essas foram as posições que mais apareceram quando eu estava procurando por emprego:

  • Pessoa Desenvolvedora Front-end: é responsável por desenvolver interfaces que interagem com a pessoa usuária, ou seja, aquilo que a pessoa usuária consegue enxergar. 
  • Pessoa Desenvolvedora Back-end: é responsável por desenvolver a comunicação com os servidores, que vão trazer as informações que estarão presentes nas interfaces para as pessoas usuários. 
  • Pessoa Desenvolvedora Full Stack – essa pessoa irá trabalhar tanto com o back-end quanto com o front-end. 

Dica: Recomendo ler esse artigo da Becode sobre a diferença entre back-end, front-end e full stack. 

  • Analista de Testes: essa pessoa é responsável por desenvolver e elaborar testes de software. Esses testes verificam se não há bugs e outras falhas no código que a pessoa usuária possa vir a encontrar ao usar o produto. 

Caso o desenvolvimento não seja exatamente o que você quer fazer, existem outras formas de se inserir no mercado da tecnologia. Por exemplo:

  • Analista de Experiência de Usuário (UX, de User eXperience): é responsável por entender como a pessoa usuária interage com o produto e buscar formas de melhorar a sua experiência.
  • Analista de Qualidade (QA): é responsável por garantir que o software atenda aos requisitos da/o cliente e, também, atesta a qualidade das soluções. Esse texto da FCamara relata as atividades que um QA executa e a sua importância em times de alta performance. Vale a pena dar uma lida.

Outro ponto importante a ser considerado é o nível do cargo. É comum que as empresas dividam as vagas em júnior, pleno e sênior. Grosso modo, podemos dizer que as vagas júnior são para as pessoas iniciantes, com nenhuma ou pouca experiência. As vagas pleno e sênior são direcionadas a profissionais com mais experiência. Quem quiser saber mais sobre essa distinção, esse vídeo da RocketSeat explica muito bem:

Fala Dev #6 – Júnior, pleno ou sênior, qual a diferença?  | Diego Fernandes

Entender um pouco mais sobre o que é cada vaga, e, também, definir em qual nível eu estava, foi fundamental para que eu conseguisse procurar algo que fosse mais adequado a mim. A grande questão aqui é: como você se imagina inserida profissionalmente no mundo da tecnologia? Seria programando, desenvolvendo sistemas? Seria planejando soluções? Melhorando a experiência da pessoa usuária que utilizar o produto? Facilitando a comunicação entre as/os clientes e os times de desenvolvimento? As possibilidades são muitas. Eu escolhi buscar vagas de desenvolvimento porque me sentia mais apta e gostava bastante de programar. E como eu tinha pouca experiência, procurei vagas para devs júnior. 

 

Me aplicando às vagas: o que esperar dos processos seletivos?

Quando eu entendi melhor o que estava buscando, comecei a me aplicar às vagas que encontrava no LinkedIn e também enviando meu currículo diretamente para algumas empresas que eu já conhecia aqui na região onde moro. Estava procurando vagas apropriadas para pessoas desenvolvedoras que estavam no começo da carreira, com pouca ou nenhuma experiência. Fui chamada para algumas entrevistas e consegui passar em duas.  

A minha experiência com os processos seletivos foi bem diversa: algumas empresas solicitaram um teste antes – geralmente, pediam para implementar a solução e enviar o código para eles – e só depois chamavam para a entrevista. Tinha tentado em duas empresas assim, mas não consegui. Também estive em uma entrevista na qual tive que fazer duas provas logo após conversar com o entrevistador, uma de inglês e outra de lógica de programação. Outras eram simplesmente uma conversa com o RH e o gerente de TI. Percebi, então, que não há fórmula mágica para conseguir ir bem em um processo seletivo, já que a maneira como cada empresa o faz é diferente. 

A vaga que eu consegui envolveu um processo bastante simples e muito bom, na minha opinião. Eu me candidatei pelo LinkedIn e logo fui chamada para a entrevista. Foi uma entrevista online porque na época eu ainda não estava morando na cidade em que eu iria trabalhar. A entrevista foi com uma recrutadora e com o gerente de TI da equipe a qual eu iria me juntar, caso passasse. Correu tudo bem, me perguntaram o que eu sabia, se estava disposta a aprender o que eu ainda não sabia e se eu falava inglês. O que me surpreendeu é que boa parte da entrevista esteve focada justamente em falar sobre o momento que eu estava: como eu me sentia em trabalhar em uma empresa pela primeira vez e quais as expectativas que eu tinha em relação a isso. Consegui deixar bem claro que eu era iniciante, tinha pouca experiência e acabei me encaixando na vaga. Recebi a resposta positiva alguns dias depois e foi muito legal.

 

Lidando com os medos, angústias e inseguranças

Como eu disse antes, a escolha de mudar de foco e sair da área acadêmica para tentar algo no mercado de trabalho não foi muito simples. Eu estava graduada há algum tempo, nunca tinha trabalhado como desenvolvedora, e já estava quase fazendo 25 anos!!! Sim, eu sei. Na época, eu estava sentindo como se não tivesse mais tempo para mim, que já estava quase no limite da idade para começar praticamente do zero uma carreira no mercado de trabalho. Isso era especialmente frustrante pelo fato de eu já ter investido quase 7 anos da minha vida na área acadêmica. Tudo isso com apenas 24 aninhos. A nossa percepção de tempo é meio esquisita nessa época da vida, não é? 

Eu também sentia que eu tinha que saber de tudo. Que precisava saber programar em 10 linguagens diferentes, ter um repositório invejável no Github cheio de projetos e contribuições maravilhosas, entender os processos de desenvolvimento de cima a baixo… Mas, calma! Eu estava apenas começando. Se eu já tivesse tudo isso de bagagem, eu poderia me chamar de tudo, menos de iniciante. Não há nada errado em saber pouco. Não há nada errado em ter feito pouco. É comum que as mulheres (ou qualquer outra pessoa que não esteja no molde homem cisgênero) se sintam inseguras demais para se posicionar em uma área que, infelizmente, ainda é muito “masculina”. Eu tinha bastante medo de não ser levada a sério, de duvidarem das minhas capacidades e meu potencial a ponto de eu mesma quase acreditar nisso. E que para provar que eu era capaz, tinha que ter feito muita coisa. 

Vou dizer que não tenho mais essas inseguranças? Claro que não. Até mesmo quando a gente é considerada apta para uma vaga e começa a trabalhar, é comum que surjam outras dúvidas, outras inseguranças, outros medos. Eu tento levar um dia de cada vez e fazer hoje melhor do que eu fiz ontem. Te convido a fazer o mesmo. Conhecimento e experiência são produtos diretos do estudo, prática e tempo. Confie no processo. Vai dar tudo certo!

 

Algumas dicas que me ajudaram a conquistar uma vaga e que podem te ajudar também.

Antes de finalizar, gostaria de chamar atenção ao fato de que em momento algum eu falei de linguagens, frameworks e ferramentas específicas. Sabe por quê? Porque não importa (muito). Claro, você tem que saber programar em alguma linguagem e deve procurar vagas compatíveis ao seu conhecimento, mas isso é só a pontinha do iceberg. Não deixe que dominar uma linguagem seja o seu único foco. Há sempre muito espaço para aprender.

 

Dito isso, aqui vão as dicas:

  1. TENHA SEU CURRÍCULO ATUALIZADO! Isso vale até para quem já está trabalhando. Mesmo que muitas empresas utilizem ferramentas de recrutamento como o LinkedIn, Kenoby e Workday, o bom e velho currículo ainda se mostra bastante necessário. Inclusive, há empresas que mesmo utilizando algum processo mais automatizado de seleção ainda solicitam o seu currículo para análise. Não deixe para fazer isso só quando você já encontrar aquela vaga perfeita. Vai por mim! 
  2. TENHA O SEU CURRÍCULO TRADUZIDO PARA O INGLÊS! Espanhol também é o caso, se você estiver mirando empresas da América Latina/Espanha. Tente sempre mantê-lo atualizado e, se possível, revisado por alguém. Ah, mas eu não sei inglês! Sem problema! Procure algum exemplo ou modelo pronto em inglês relativo à sua formação, profissão ou vaga desejada. Por exemplo, se você quer trabalhar com desenvolvimento back-end, procure por termos como “developer CV example“, “developer resume template“. E para checar o inglês, recomendo o Grammarly, que é gratuito e corrige erros de ortografia e gramática.
  3. NÃO TENHA MEDO DA DESCRIÇÃO DAS VAGAS! Você vai notar que, em muitas vagas, a lista de requisitos é grande e cheia de termos desconhecidos, especialmente, se você está iniciando na área. Tenha certeza de que você atende aos requisitos obrigatórios (que para as vagas júnior não costumam ser muito rígidos) e se você não possui os diferenciais, SE APLIQUE MESMO ASSIM. Eu sei como é, “ah! mas vai ter alguém que vai atender a tudo, nem adianta eu tentar”. Adianta sim. Os diferenciais geralmente são coisas que você vai precisar no seu dia a dia, mas que há espaço para você aprender, caso não saiba. A empresa está consciente disso. Sem estresse!
  4. SINCERIDADE NAS ENTREVISTAS. Parece clichê, mas você não precisa inventar nem se justificar muito por não saber algo. Diga o que você sabe, se perguntarem algo que você não sabe, diga que não sabe. Você não precisa tentar aumentar nada (muito menos mentir, hein!).
  5. ESTUDO CONSTANTE. A área de tecnologia muda bem rápido! Olhando as vagas disponíveis é possível ter um insight sobre o que está sendo bastante requisitado e você pode buscar aprender sobre. Essa dica vale até mesmo se você não estiver buscando um emprego agora, mas também não sabe muito bem o que estudar. Disponibilize seus projetos de aprendizagem no Github e afins. Mostre o que você sabe!

E é isso! Espero que esse conteúdo tenha acrescentado à sua busca por uma oportunidade. Boa sorte, futura dev!

CRÉDITOS Autora Alissar Ali Mouss, Engenheira de Software na Trimble Transportation Latam Graduada em Ciência da Computação pela Universidade Estadual de Londrina e mestra em Informática com foco em Segurança da Informação pela Universidade Federal do Paraná. Atua como Engenheira de Software na Trimble e fazem parte do seu dia a dia tecnologias como Node.js, React, AWS e Kubernetes.  https://www.linkedin.com/in/alissar-moussa/

Revisora Luciana Fleury, jornalista Formada em Jornalismo pela Cásper Líbero. Tem trabalhado com o desenvolvimento de projetos editoriais, produção de conteúdos e edições de textos. É mãe orgulhosa da Gabriela e coleciona globos de neve.  Redes sociais: https://www.linkedin.com/in/luciana-fleury-1b024083/


Este conteúdo faz parte da PrograMaria Sprint Processos Seletivos em tech.

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