Por Zoe Kleinman. Originalmente publicado na BBC News.

De robôs de gênero neutro a dispositivos de monitoramento de saúde que consideram o período menstrual, carros com mais capacidade de armazenamento e roupas com bolsos maiores – o mundo poderia ser um lugar muito diferente se mais mulheres trabalhassem na área de tecnologia.

Nós perguntamos a um grupo de mulheres das áreas de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática (STEM – Science, Technology, Engineering and Maths, na sigla em inglês) como o mundo poderia estar, comparado com a atualidade, se mais mulheres estivessem presentes nessas indústrias predominantemente masculinas.

Em seu oitavo ano, o dia da celebração anual das mulheres na STEM é nomeado em homenagem à mulher considerada a primeira programadora do mundo, Ada Lovelace, devido ao seu trabalho com o inventor Charles Babbage e a  ideia de uma “máquina analítica” em meados de 1800.

Kriti Sharma, diretora de robôs e inteligência artificial da Sage

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“Se houvesse mais mulheres trabalhando em robótica e inteligência artificial (IA), as mulheres não estariam em segundo plano na construção de novas tecnologias.

“Os primeiros softwares de reconhecimento de voz não reconheciam vozes femininas na maioria dos casos porque nenhum de seus desenvolvedores foram mulheres e ninguém pensou em testar a tecnologia para público feminino. (A segurança de automóveis falhou em considerar a anatomia feminina – bonecos de teste com proporções femininas foram aderidos nos Estados Unidos apenas em 2011).

“A inteligência artificial aprende como os bebês: coletam dados e conhecimento do ambiente ao seu redor. Isso significa que se esse ambiente  é completamente masculino, a IA terá uma esfera muito limitada do conhecimento.

“Haveria mais mistura nos gêneros das vozes de IA – assistentes pessoais obedientes não seriam predominantemente mulheres (Siri em seu lançamento, Cortana, Alexa) e robôs humanóides avançados não seriam predominantemente homens (NAO, o robô de companhia da SoftBank, e, indo mais longe, R2D2 e Hal 9000).

“Eu sempre insisto que Pegg, primeiro chatbot de contabilidade que desenvolvi na Sage, é de gênero neutro”.

Suw Charman-Anderson, fundadora do Ada Lovelace Day

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“Se houvesse mais mulheres na tecnologia, os aplicativos de saúde não se esqueceriam que as mulheres possuem um período menstrual e os aplicativos de monitoramento de período menstrual não seriam focados quase que exclusivamente no planejamento de gravidez.

“Novos computadores e telefones voltados para o público feminino focariam em suas especificações técnicas e não em ser cor-de-rosa, e as câmeras DSLR poderiam possuir um corpo menor e mais leves, com botões posicionados para mãos menores.

“As redes sociais não tolerariam o abuso e uma moderação e curadoria melhores fariam das seções de comentários dos portais de notícias mais toleráveis.

“E, finalmente, as roupas femininas teriam vários bolsos de tamanhos decentes, nos quais poderíamos colocar todos os nossos dispositivos”.

Naomi Climer, presidente da Institution of Engineering and Technology

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“Alguns dos desenvolvimentos tecnológicos sob uma força de trabalho exclusivamente feminina incluiriam automóveis, que seriam menos um símbolo de status e incluiriam mais aspectos voltados para o público feminino, como mais espaço de armazenamento, adaptações para corpos de tamanhos diferentes e outras funcionalidades em destaque nos painéis.

“Poderíamos também encontrar tecnologias na área de saúde voltadas especificamente para a fisiologia feminina. Estariam acabados os dias nos quais diversas mulheres com problemas de saúde terríveis e que afetam sua qualidade de vida ouvissem que é apenas ‘coisa de mulher’!

“Crianças procurariam automaticamente por suas mães – ao invés de seus pais – ao precisar de ajuda para consertar, criar e construir coisas”.

Deborah Clark,  diretora sênior da Neustar

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“Como mulheres, nós possuímos uma tendência natural a habilidades multitarefas e de negociação por causa dos diversos aspectos da vida, como equilibrar o trabalho com tarefas domésticas e cuidados com a família.

“De um ponto de vista de segurança digital, mulheres são inquisitivas e permanecem calmas sob pressão. Elas tendem a olhar os problemas de diferentes ângulos e desenvolvem soluções criativas que podem não ter sido pensadas antes.

“Os motivos e vetores de ataques cibernéticos têm mudado significativamente nos últimos anos, logo ter essa agilidade é uma habilidade crítica na minha área, especialmente quando se está lutando contra criminosos que, ao fim do dia, estão tentando descobrir novas formas de roubar você, a sua família e amigos”.

Becky Plummer, engenheira de software sênior da Bloomberg

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“A realidade é que não há muitas inovações lideradas por mulheres, como a seringa de mão (Letitia Geer), aquecimento central a gás (Alice Parker), aquecimento residencial solar (Drª Maria Telkes), Kevlar (Stephanie Kwolek)  e até mesmo a base para o WiFi (Hedy Lamarr).

“Não há dúvidas de que as mulheres trouxeram, e continuam a trazer, ótimas inovações para o mundo em que vivemos. Então, como seria a indústria tecnológica – e o mundo –  se houvesse mais mulheres desenvolvedoras?

“Com mais mulheres participando na indústria tecnológica, eu acredito que nós poderíamos (e espero que iremos) ver mais produtos focando na qualidade de vida feminina. Poderia ser simples como um aplicativo de monitoramento fitness que monitora a saúde do nosso ciclo reprodutivo ou nos avise para procurar tratamento médico. Inovações relativamente simples como essas poderiam democratizar os cuidados com a saúde em todo o mundo”.

Sophie Vandebroek, diretora de tecnologia da Xerox

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“Não é uma questão de mulheres ou homens dominando a indústria de tecnologia. O que realmente faz a diferença é criar uma organização ‘inclusiva’ para todos. Uma organização onde todos podem se trazer por completo para o trabalho e os seus intelectos e paixões sejam apreciados e canalizados efetivamente.

“Para aqueles que desejam ser realmente felizes e produtivos no trabalho, é necessário trabalhar para uma empresa que é inclusiva. As pessoas precisam se identificar e se inspirar pelas outras ao seu redor.

“Diversidade significa trabalhar em uma empresa onde você não é a única mulher nem o único homem, a única pessoa com sotaque, a única pessoa homossexual ou a única pessoa de determinada faixa etária, grupo étnico ou classe social”.

Dra. Karen Masters, astrofísica da Universidade de Portsmouth

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“Na astronomia, há uma longa história de mulheres realizando importantes contribuições, mas elas sempre foram uma minoria.

“Não sei se a área mudaria significativamente, mas a experiência das mulheres nela mudaria. Elas não precisariam mais lutar contra o estereótipos e constantemente ter que justificar suas presenças como astrofísicas. Eu gosto de imaginar o quanto de energia extra todas essas mulheres teriam para ter sucesso na compreensão do universo”.

Gen Ashley, diretora da Women Who Code London

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“Se houvesse mais mulheres na tecnologia, haveria mais modelos para inspirar jovens garotas a seguir carreira na área. Seria mais fácil para elas se identificarem com uma mulher que realmente atua na profissão que desejam exercer.

“Haveria também mais mulheres disponíveis para orientar outras colegas”.


Números das mulheres na tecnologia

  • O objetivo do Twitter para 2016 é de que 16% de sua equipe tecnológica e 33% de sua equipe geral seja formada por mulheres.
  • Em gráficos lançados neste ano, o Facebook revelou que 17% de sua equipe tecnológica e 33% de sua força de trabalho geral é feminina.
  • 19% da equipe tecnológica da Google e 31% dos funcionários em geral são mulheres, de acordo com um gráfico de janeiro de 2016.
  • Na Microsoft, em 2015, 16.9% da equipe de tecnologia e 26.8% dos funcionários em geral eram  compostos por mulheres.
  • A Apple afirma que 32% de seus funcionários são mulheres e que 37% das pessoas contratadas em 2016 são mulheres.

Fotos: Thinkstock, Kriti Sharma, Paul Clarke, Institution of Engineering and Technology, Neustar, Bloomberg, Xerox, Portsmouth University, Gen Ashley